13 de fevereiro: Salve, Salve as Rainhas do Rádio!

13 de fevereiro: Salve, Salve as Rainhas do Rádio!

Por Lia Salles Damazio

Hoje, com a existência da Internet, o rádio está tendo que se reinventar. Contudo este veículo de comunicação antes da televisão e muito antes da existência das transmissões online, das plataformas de streaming, dominou o cenário das telecomunicações e conectou de forma afetuosa pessoas pelo mundo inteiro. Hoje, dia 13 de fevereiro é consagrado a ele, hoje é o Dia Mundial do Rádio.

O rádio! Quantas opções oferecia para nossas emoções; novelas, esporte, noticiário, música. Quanta coisa foi e é apreciada por muitos e aguardada por outros com ansiedade.

Mas entre tantas lembranças boas, vamos viajar no tempo para reviver a Era de Ouro do Rádio que no Brasil durou aproximadamente duas décadas, as décadas de 40 e 50 do século XX. Programas de auditório que curtíamos como só quem é fã sabe como curtir. O ponto alto dessa verdadeira febre que acometia a sociedade brasileira era a eleição da Rainha do Rádio!

O número de cantoras que recebeu este título é significativo, mas também tivemos cantores que fizeram a audiência do rádio explodir sem, contudo, receber oficialmente a coroa.

Como e porque nasceu o concurso

A finalidade do concurso Rainha do Rádio era nobre: arrecadar fundos para a construção do Hospital dos Radialistas. Era promovido por Vitor Costa, diretor geral da rádio de maior audiência do Brasil na época. A coroa era entregue à vencedora num baile de gala – o Baile da Rainha da Rádio Nacional – para deleite de fãs frenéticos que lutavam por suas cantoras preferidas e compravam os votos na certeza de vê-las coroadas.

A primeira vencedora do concurso, em 1937, foi Linda Batista, cantora que arrebatava corações. Manteve-se esse título por onze anos, imaginem! E, em 1948, passou o cetro para sua irmã Dircinha Batista.

Dircinha, contudo, só reinou por um ano, pois ,em 1949,a disputa acirrada entre Emilinha Borba e Marlene deixou Dircinha Batista comendo poeira.

O concurso havia crescido em investimento publicitário e da parte das cantoras e aspirantes a cantoras crescera também o desejo de vencer; o interesse dos fãs era imenso, não se falava em outra coisa. Havia até mesmo cédulas para votação que vinham impressas na Revista do Rádio, veículo que cobria os bastidores do rádio. Os fãs compravam a um cruzeiro cada cédula para votar, e havia aqueles que gastavam bem mais do que isso no afã de ver seu ídolo coroado.

Com a disputa entre as duas cantoras de maior público o “clima” que cercou a essa edição do concurso foi efervescente.

Eis que surge um patrocinador para Marlene, o Guaraná Caçula da companhia Antártica que lhe deu um cheque para comprar quantos votos precisasse para se eleger Rainha do Rádio e ela reinou absoluta até1951, por vencer os dois concursos seguintes.

A próxima eleição teve uma repercussão muito maior graças a Vitório Castro e outros patrocinadores que se incorporaram ao bem sucedido concurso ofertando prêmios e fazendo sorteios junto ao público. Tudo no mais alto nível – eram viagens ao exterior, automóveis e até apartamentos, um verdadeiro dote para aquelas rainhas.

Em 1951, Marlene perdeu com dignidade, pois a candidata vencedora era Dalva de Oliveira, uma das mais importantes cantoras do Brasil. Dona de uma voz privilegiadíssima, seu registro ia de contralto a soprano.

Dalva foi eleita com 311.107 votos – o que nos tempos de hoje com milhares de visualizações, milhões de seguidores não nos causa espanto, mas este era um número surpreendente para época. O concurso era um estrondoso sucesso.

Após Dalva de Oliveira, a nova Rainha do Rádio foi Mary Gonçalves, em 1952, embora não fosse uma das mais populares cantoras, era muito querida entre os artistas.

No ano seguinte, o concurso esquentou por causa do novo embate entre Emilinha e Marlene, dessa vez Emilinha estava melhor estruturada e contava com o apoio de um fã clube fortíssimo, assim conseguiu levar a melhor sobre a rival Marlene.

A rivalidade entre as duas faz parte da cultura popular brasileira e ampliou o papel dos fãs clubes, aliás a “rivalidade” entre as cantoras é muito mais dos seus fãs do que delas mesmas. O resultado da eleição foi o seguinte: o terceiro lugar ficou com a grande cantora Nora Ney, o segundo com Marlene e a rainha da vez, no primeiríssimo lugar, foi, enfim, a Rainha do Rádio Emilinha Borba com um pouco mais de um milhão de votos.

A popularidade do concurso continuava a crescer vertiginosamente. E em 1954, ocorre a “maior votação de todos os tempos” com Ângela Maria sendo eleita com 1.464.996 votos. Arrebentou!

Ângela Maria foi cantora, compositora e atriz na época da Era do Rádio. Foi uma das cantoras mais populares do Brasil entre o público e entre figuras proeminentes como as renomadas cantoras Edith Piaf e Amália Rodrigues, o fantástico Louis Armstrong e os presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Por tudo isso, Ângela Maria tornou-se uma inspiração para muitos artistas da época.

Em 1957, Doris Monteiro “subiu ao trono”. A nova rainha começou a carreira muito cedo, ainda menor de idade. Fato curioso que entrou para a crônica da história do rádio foi o de ter sido acompanhada por sua mãe zelosa, quando de suas apresentações em cassinos e rádios. Sua carreira foi a reafirmação e o amadurecimento de um dos maiores talentos da música brasileira.

A última rainha foi a cantora Julie Joy, que venceu as edições do concurso em 1958, 1959 e 1960, último ano do campeonato. A televisão chegara alguns anos antes e se consolidava como veículo preferido dos brasileiros.

Contudo, mesmo com o advento da televisão, o rádio seguia criando uma verdadeira corte na república do Brasil. Além das Rainhas do Rádio, ainda havia espaço reis e outras rainhas por seus sucessos estrondosos: Ademilde Fonseca era a rainha do Choro. Luiz Gonzaga era o Rei do Baião e tinha até uma rainha, Carmélia Alves. Francisco Alves era o famoso O Rei da Voz e o irreverente Moreira da Silva, o Rei do Gatilho.

Grandes sucessos, grandes artistas. Que belo tempo foi a Era do Rádio.

Flavia Ferreira

Flavia Ferreira

Jornalista e viajante nas horas vagas. Sou apaixonada por conhecer novos locais e culturas, assim como por um café quentinho e uma bela taça de vinho.