Quem somos nós sem Memória?
Agosto, mês do folclore, agosto também é o mês do desgosto, diz a sabedoria popular. Estupefatos, os brasileiros que cultivam o ato de preservar na memória fatos, pessoas, ações, acontecimentos lamentam a inestimável perda do acervo da Cinemateca Brasileira devido a um incêndio. Tragédia anunciadíssima ! Outros incêndios já ocorreram
É fato que sempre faltou dinheiro para a preservação do nosso patrimônio cultural seja ele material ou imaterial. E na esteira dessa falta de dinheiro motivada por uma perspectiva distorcida de “escalas de prioridade”, muito do que a gente brasileira foi construindo dentro da cultura erudita e popular, dentro da Ciência, dentro da nossa trajetória histórica foi se perdendo , surgia daí a tragédia da perda de uma identidade de povo fortalecida, realmente constituída.
Em várias histórias que conhecemos, quando a mola-mestra do enredo é a perda de memória do protagonista, vivenciamos , através da boa e velha catarse. juntamente com o herói ou a heroína, a angústia de não se saber quem é de fato. A perda da própria identidade talvez seja uma das mais profundas dores que o ser humano possa vivenciar. Imagine quando isso dá-se em escala coletiva !
Talvez seja a amnésia coletiva brasileira a causa perversa do nosso eterno complexo de vira-lata. E num país de vira-latas que não se importam com o passado, pois “quem vive de passado é museu” , como arrotam brutamontes e boçais com tonitruante orgulho da própria ignorância, é perfeitamente compreensível que se viva à espera de um futuro que nunca chega.
O brasileiro e, infelizmente, muitas de nossas autoridades e de nossos gestores públicos, esquecem – e é precisamente esse o cerne do problema – de que o tempo é um continuum, no final das contas. E o que encaramos hoje como presente, será um dia passado e que esse mesmo presente já foi um dia, futuro. Assim, o que o presente nos ensina é o que aprendeu com o passado, e se ele nada aprender, nada terá a ensinar a um futuro que num átimo de segundo se tornará um presente empobrecido de possibilidades.
Por isso, nós ,do Cultura Em Movimento ,estaremos empenhados no mês de agosto em produzirmos conteúdo que lembre a todo aquele que tiver acesso a ele da importância de preservarmos o passado, transformá-lo em lembrança viva e pulsante, enfim transformá-lo em memória para que possamos ser e nos reconhecer como brasileiros e ,como tais, construirmos desde já um país melhor para nós e para todos a quem amamos.
Será um mês em que visitaremos a sabedoria popular, a memória do povo na rua, na praça, a memória do tempo transformado em memória e reflexão pelas mãos de nossos cronistas que também serão trazidos à nossa memória ou ao nosso conhecimento , dependendo da nossa geração.
Mas o CEM sabe que o tempo não para e registra sempre novas situações, Também sabemos, como diz a voz do povo – que quase sempre é a voz de Deus – que não há mal que sempre dure, por isso hoje celebramos o renascer de uma fênix; o Museu da Língua Portuguesa que literalmente renasceu das cinzas de um incêndio, há seis anos, também por economia mesquinha. E nada mais identitário para um povo do que a língua materna !
Também celebramos outro pássaro, Rebeca de Andrade, jovem mulher-colibri cujo corpo transformou-se em prata e ouro para nos provar que não precisamos viver à espera eterna de um futuro, mas que com o chão firme do passado, podemos fazer de imediato um presente que seja benéfico e a todos contemple…