Tá na hora do Paulá Dentro!

Resenha do Paulá Dentro, 23/02, das 17h às 22h, no Quiosque da Brahma no Leme – Quiosques 1 e 2 (em frente à praça Julio de Noronha)

Essa é uma daquelas histórias que merecem e precisam ser contadas. E lidas também. Paula Esteves tem 47 anos e ama cantar desde criança. A música sempre esteve presente bem de perto em sua vida. Também pudera, é sobrinha neta daquele que talvez seja o maior músico da história do Brasil: Pixinguinha. Por um capricho dos encontros promovidos ou despromovidos pelo curso do tempo, não tem memórias de seu tio (ela, nasceu em 1972; ele, morreu em 1973), mas guarda com carinho e declarado orgulho suas conexões de sangue.

O caminho “mais óbvio” para construção de sua vida profissional seria entregar-se à musicalidade infinita que sempre existiu ao seu redor e, portanto, tornar-se uma mulher da música. O universo se encarregaria pelo resto.

Eu nunca me intitulo como sobrinha neta de Pixinguinha quando eu estou sozinha porque as pessoas reagem diferente, olham com outros olhos. Quando as pessoas sabem, é um orgulho para mim, mas isso não muda minha música.

Mas não foi assim. Aliás, não foi assim por quase todos os anos de sua vida. Paula é engenheira química e trabalhou no setor até 2016. Sim, uma mulher das indústrias! Mas apesar das configurações do tempo presente, ela diz não ter se arrependido das escolhas feitas em outrora. Segundo Paula, toda vida profissional que ela construiu antes de, de fato, doar-se à música como sempre quis, tem imensa importância para que hoje ela pudesse seguir seu sonho de infância.

A verdade, Pedro, é que eu nunca acreditei que a música fosse me dar dinheiro, uma segurança financeira. Então, eu pensei assim: já que eu já sou técnica em química, vou fazer minha faculdade de engenharia química. E eu fui convivendo com isso, sabe? Fui convivendo bem. Eu não sou infeliz sendo engenheira, não. Não sou mesmo, contou Paula

A virada de chave aconteceu numa dessas conversas de um amigo que tem um amigo, que conhece uma outra pessoa inserida no meio, que já sabia que Paula cantava, até que surgiu um convite para fazer coro em uma gravação. Sem remuneração, inclusive. Porém, a gravação foi no estúdio do Márcio Alexandre, do Grupo Fundo de Quintal. O Márcio gostou da voz da Paula e a convidou para a gravação de um EP (Extended Play).

Então, você veja bem. Quando eu dizia que não era desse mundo, é porque eu não conhecia ninguém desse mundo. Como que entra? Como faz roda de samba? Você chega com seu EP, procura o dono da roda e se apresenta. Então eu falo: “Eu sou a Paula Esteves e tô na batalha lançando meu EP. Posso dar uma canja?”. E assim eu comecei, relatou a cantora.

Começou e não parou mais. De canja em canja, foi conhecendo gente e mais gente, construindo seu repertório, preenchendo os espaços possíveis em sua agenda e estendendo seus contatos no meio.

Hoje, Paula toca tamborim no bloco Que Pena Amor e tem a sua própria roda de samba: A Roda Samba Carinhosa (sim, em homenagem a Carinhoso, composição célebre de seu tio avô).

Eu queria ter um bloco, então eu fui procurar um bar. No ano passado, uma amiga minha disse que conhece uma pessoa que tem um bar em Copacabana, bem no estilo botecão mesmo, em frente à saída do metrô Siqueira Campos. Eu fui lá com minha roda de samba e o bar encheu. Até a cerveja do bar acabou. Então eu pensei: Eu fiz isso aqui sem muito planejamento, quase no improviso e o negócio deu certo. Esse ano eu vou querer aumentar mais um pouquinho, revelou.

Neste ano de 2020, Paula estará no Quiosque da Brahma, no Leme (em frente à praça Julio de Noronha, no dia 23 de fevereiro. E dessa vez com o Resenha do Paulá Dentro, seu próprio bloco, das 17h às 22h.

Além de cantar desde a infância, Paula também desenvolveu a composição no repertório de suas valências. Ela relata com enorme apreço sua participação no projeto Aos Novos Compositores e no Movimento das Mulheres Sambistas, programas que ela considera fundamentais à formação e ao incentivo de novos talentos no mundo do samba.

Apesar deste texto ser anterior à apresentação do bloco, Paula já vem fazendo planos para o ano que vem. Suas expectativas giram em torno de conseguir incluir mais instrumentistas, ter um mestre de bateria que possa ensaiar junto dos músicos e, com o aval e a liberação da prefeitura, conquistar um espaço mais amplo e apropriado, tal qual uma praça ou uma rua, para a apresentação do bloco.

Faixa do bloco

A história de Paula vale a pena ser narrada e lida por dispor de todos os elementos necessários a um bom conto com “final feliz”. Uma história de persistência, resiliência, paciência e confiança. Evidente que é só o início da carreira musical de Paula, mas também é o princípio do alcance um sonho que nunca foi abandonado.

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Pedro Júnior

Pedro Júnior

Jornalista de tudo e de qualquer coisa.