Episódio 3: e-Commerce

A tecnologia, conforme elucidado anteriormente, trouxe incontáveis avanços em diversas áreas de atuação humana. A facilidade, praticidade e agilidade no comércio de compras e vendas on-line acompanhou este processo de evolução e tornou-se, rapidamente, uma realidade capaz de enfrentar o “comércio físico”, mais tradicional. As altas receitas geradas pelo e-commerce movimentam a economia do país e aceleram o crescimento do PIB.

No entanto, como consequência desse crescimento, também cresceu, em paralelo, a aplicação de golpes, ataques cibernéticos e proliferação de links maliciosos ou sites falsos que levam as pessoas a serem enganadas na web. De acordo com uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), divulgada em maio de 2019 pelo jornal O Globo, quase metade (46%) dos internautas do país foram vítimas de golpe financeiro nos últimos 12 meses (em relação à data da pesquisa), número equivalente a um contingente de 12 milhões de pessoas.

Os prejuízos, ainda segundo a pesquisa, chegam a R$1,8 bilhão, valor maior que o Produto Interno Bruto (PIB) de diversos estados do Brasil. O que mais preocupa, porém, é que um terço dos consumidores lesados não conseguiram recuperar nem um tostão do que perderam. O prejuízo médio é alto entre os entrevistados e chega a R$478,00. Já as fraudes são intensificadas especialmente na época da Black Friday, campanha criada nos Estados Unidos em que diversas lojas fazem grandes promoções de seus produtos. Os criminosos, por sua vez, aproveitam-se dessa época em que os preços caem para ludibriar consumidores.

Golpes impulsionados pela Black Friday

Um dos golpes preferidos do mês de novembro, quando ocorre a Black Friday pelo mundo, é a criação de sites fraudulentos com o objetivo de enganar os possíveis clientes. Para aumentar as chances de êxito do esquema e receberem o dinheiro, os golpistas costumam utilizar de artifícios relativamente datados e conhecidos, mas que ainda surtem efeitos em usuário menos atentos. São eles: enviar spam por e-mail, fazer propaganda via links patrocinados, anunciar descontos em sites de compras coletivas e até mesmo ofertar produtos por preços muito abaixo do mercado, o que naturalmente atrai a atenção do consumidor.

É verdade que as lojas virtuais, especialmente as grandes multinacionais, como Loja Americanas, Magazine Luiza, Casas Bahia, NetShoes, Mercado Livre, entre outras, buscam métodos de modernizar a plataforma de vendas e torná-la cada vez mais segura ao consumidor. No entanto, paralelo a essas tentativas, os golpistas também se movimentam nesse sentido e procuram evoluir os meios pelos quais aplicam as fraudes, o que dificulta o trabalho das lojas. Por isso, a principal tática de defesa para evitar ser enganado, de acordo com o delegado Marcus de Henrique, que foi o chefe titular da Delegacia de Repressão a Crimes Virtuais (DRCI) do Rio de Janeiro, é a prevenção.

Os golpistas buscam sempre estar à frente e antever as técnicas de defesa dos sites eletrônicos. A partir daí, conseguem achar brechas que clonam cartões e tornam o site inseguro. Porém, o que mais presenciei nos últimos anos, e vale destacar que a Polícia Civil faz seu trabalho em busca de conter este avanço, é em relação aos sites falsos. O consumidor precisa ter atenção redobrada na hora de fazer compras on-line, especialmente se o preço estiver muito abaixo dos praticados no mercado. Sempre sugerimos que denunciem à polícia, caso encontre um produto por um valor extremamente baixo em relação às grandes lojas, para que consigamos iniciar a investigação o quanto antes, explica Marcus, que atuou por dois anos na DRCI e atualmente é o titular da 37ª DP (Ilha do Governador).

Marcus de Henrique, atualmente delegado titular da 37ª DP (Ilha do Governador)

Ainda segundo o delegado, o crime de sites fraudulentos traz consigo, normalmente, um grupo de golpistas que se unem e pensam em cada detalhe para enganar o consumidor, inclusive com argumentos que o convençam para a realização da transação.

Eles criam domínio no nome de um “laranja” e criam sites em plataformas diferentes para não levantarem suspeitas. Oferecem produtos eletrônicos com preços de 30 a 40% mais baixos do que os valores praticados no mercado para pagamento em boleto e investem pesado em mídias no Google para que a loja apareça para a maior quantidade de pessoas possível. Como não há reclamações em sites como o Reclame Aqui por ser um site novo, o consumidor é seduzido pelo preço baixo e acaba comprando. O investimento em Black Friday é ainda maior, já que os preços de algumas lojas podem mesmo cair, explica o delegado.

Depoimento de vítima

O estudante de engenharia civil Ricardo Morais, 25, conta que sofreu, há um ano, com esse formato de golpe. Na ânsia de presentear o irmão mais novo da namorada, que havia lhe pedido um videogame de última geração, fez uma rápida busca ao Google e achou a loja “Azevedo Eletrônicos”. Na época, o produto custava em torno de R$2500,00 em lojas especializadas, e no site fraudulento, o mesmo console saía por R$1200,00 à vista. O preço lhe seduziu, e o site, que segundo ele era moderno, bonito e apresentava fácil navegação, convenceu-lhe a fazer a compra. No mesmo dia, depositou o valor integral na conta do site e desde então nunca mais viu seu dinheiro, tampouco o produto.

Infelizmente, eu fui impulsivo e este foi meu erro para que tomasse esse golpe. Hoje este site nem existe mais, funcionou por apenas três meses. Cheguei a denunciar a polícia após perceber que tinha sido envolvido em um golpe, mas não adiantou muito, afinal, é difícil chegar nos autores. Recomendo todos a terem mais consciência na hora de comprar, analisar bem a reputação da loja e pedir todas as garantias antes de fazer qualquer transação bancária. Estamos lidando com bandidos espertos, que estão preparados para te enganar e precavidos para qualquer pergunta para te passar a confiança necessária na autenticidade do site, conta Ricardo.

Ricardo encorpou a lista de vítimas de golpes aplicados no e-commerce. Em 2019, a cada minuto, R$5 mil foram registrados em tentativas de fraudes, de acordo com levantamento da ClearSale, empresa especializada em antifraude para e-commerce. Este é um claro sinal de alerta que basta para a prevenção ser maior em compras na internet. No Brasil, os maiores golpes acontecem nas regiões Norte e Nordeste, com 7,7% e 7,2%, respectivamente, de consumidores lesados com fraudes. O trabalho da polícia especializada é complexo e uma investigação minuciosa leva bem mais tempo do que uma simples transação na internet. Portanto, o maior sistema de segurança para compras on-line, de acordo com especialistas, é a pesquisa atenta e a prevenção do próprio consumidor.

Pedro Júnior

Pedro Júnior

Jornalista de tudo e de qualquer coisa.