A Bela e a Fera – uma história eterna de amor
A Bela e a Fera – uma história eterna de amor
Por Eneida Salles Damazio
Essa semana o Cine Brechó recomenda para crianças e para os adultos que nunca deixaram de ser crianças, a magia de um dos mais belos contos da literatura infantil em homenagem ao Dia Nacional do Livro Infanti. Que se comemora hoje, dia 18 de abril.
A literatura deu ao cinema toda uma base da estrutura e da técnica narrativas e, se não me engano, foi Umberto Eco quem sinalizou para o fato do cinema ter aprendido muito com o uso da descrição a partir dos romances produzidos no século XIX.
Literatura e cinema é uma história de amor com seus altos e baixos como toda boa história, principalmente porque quando há a transposição de um rosto de protagonista que foi imaginado pelo leitor de determinada maneira para um rosto específico de um ator ou atriz, por exemplo, há uma certa desconfiança ou um estranhamento. Mas, de maneira geral, essa química funciona bem, inclusive como forma de popularizar grandes livros e seus autores, principalmente em países que não valorizam a leitura ou tem dificuldades grandes de acesso ao livro.
O filme dessa semana é um clássico da literatura infantil e uma das minhas histórias favoritas em criança. Falo de A Bela e a Fera.
O texto teve várias adaptações para o cinema, incluindo as versões feitas pelos estúdios da Disney: uma em desenho animado e mais recentemente em filme .
O desenho animado é de 1991 e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, foi o primeiro filme de animação a conseguir uma indicação nesta categoria. O grande trunfo dessa versão além das músicas, e para mim um atrativo irresistível, é o fato de Bela ser uma leitora voraz e ter um comportamento independente e fora de padrões de comportamento feminino passivo.
Está à disposição no canal Richard Jones completo e dublado, mas a melhor cópia encontra-se no Canal J. Desenhos Animados III Oficial. O ponto negativo é que o canal resolveu dividi-lo em partes, mas esse obstáculo é facilmente resolvido se ativarmos a reprodução automática. Recomenda-se principalmente para a criançada que além de tudo tem uma excelente oportunidade de se familiarizar com o gênero de filme musical.
No entanto, a versão que eu gostaria de indicar, embora disponível gratuitamente online, não tem uma cópia de boa resolução, é a produção franco-alemã, de 2014, protagonizada por Vicent Cassel( a Fera) e por Lea Seydoux, como Bela. Foi dirigida por Christophe Gans de Silent Hill e do sombrio e mítico Pacto Dos Lobos.
O filme é belíssimo visualmente, chega mesmo a ser exuberante graças ao trabalho de cenários, figurinos de Pierre Yves Gayraud e dos efeitos especiais .A produção ganhou o César de Melhor Design de Produção pelo trabalho realizado por Thierry Flanard. Contudo, o filme tem algo muito interessante que belas imagens; no enredo, embora respeitando a trama original do conto, acrescenta um dado importante que remonta mitos, a lendas franceses e histórias medievais. Há no filme a abordagem de um tema preciso – a trágica história de amor entre o caçador e uma corça metamorfoseada em mulher.
Embora o filme completo não seja recomendável assistir, ao pesquisar por sua trilha sonora, você verá pequenos clipes do filme e poderá se deleitar com as belíssimas imagens e a maravilhosa fotografia dessa versão. Para isso, consulte os canais Desiré Taconi e Yoam Freget – Vevo e entre num clima de magia e romantismo.
O clássico de Jean Cocteau
A versão que recomendo para adultos é a um clássico do cinema que entra em todas as listas de críticos e especialistas . Trata-se da adaptação feita pelo escritor, artista diretor de cinema e teatro Jean Coucteau , em 1946.
Assinando a direção e o roteiro, Cocteau, mais do que nunca cria um universo que ele bem conhecia – o poético – nas cenas que se passam no castelo da Fera interpretado por Jean Marais, pode-se mergulhar num clima que alcança a dimensão do discurso do inconsciente , criando um efeito onírico e surreal. Esse clima visual era muito familiar a Cocteau , pois ele iniciou sua trajetória artística através da poesia que o aproximaria dos movimentos vanguardistas do início do século XX.
Os cenários são inspirados por pinturas barrocas do holandês Jan Vermeer e pelas gravuras de Gustav Doré.
Doré foi ilustrador de inúmeras obras, desde a da Bíblia, até cartas de tarô. Mas se notabilizou por ser ilustrador de livros, muitos deles infantis. Em especial de contos de fadas.
Embora seja um filme preto e branco, para os olhos acostumados com cores, os cenários são incríveis e é muito interessante ver como, numa época que não se contava com a computação gráfica e outros recursos sofisticados para a criação de efeitos especiais, truques ópticos, cenográficos e de montagem conseguem criar um ambiente repleto de magia e fantasia.
A adaptação foi feita da versão feita por Madame Jeanne Marie Leprince de Beaumont. E Cocteau, inicia o filme fazendo uma referência a uma aula, aliás, muitas crianças francesas conheceram ou estudaram esse conto nas escola.
Em um quadro de giz, Cocteau fala ao seu espectador sobre o pacto generoso que se estabelece entre qualquer autor e o público, que faz com que este último porte-se com a inocência das crianças. Aliás a pureza das crianças, o elogio da bondade e do altruísmo que triunfa sobre a bestialidade e os baixos sentimentos humanos poderá ser um reflexo do espírito do pós-guerra, já que o filme é de 1946.
Mais uma curiosidade: essa versão participou do primeiro festival de Cannes e está disponível gratuitamente nos canais Memórias Filmes e Cine Antiqua Purple.
Enfim, seja qualquer for a versão que você se disponha a assistir, você aprenderá com a Bela e com a Fera que o amor, os bons sentimentos, o autocontrole pode ajudar a pavimentar o caminho para uma vida mais equilibrada e , talvez, feliz.
Assista a esse filme e não esqueça de inscrever-se nos canais que disponibilizam para nós o deleite de ver um amor terno e eterno.
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