Feliz Aniversário, meu Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro  , completa neste primeiro de março 457 anos, quase meio século de milhares de emoções, fatos históricos, lembranças nascimentos e mortes, risos, lágrimas, invasões, progresso, modificação de terra e mar, e muita História pra contar.

Esta cidade sempre viu florescer poesia, arte, música e Deus ajudava também brincando de pintor e arquiteto.

Hoje ao olhar o céu azul, azul, azul de um dia típico de verão no Rio  40 graus de sempre, revi minha infância onde aprendi com meus pais e avós amar a cidade, a gentileza que havia nos cariocas da gema, e principalmente  a arte que o Rio inspira e proporciona a todo o país.

Mais tarde, vou fazer o meu Carnaval, nesta  estranha Terça-feira Gorda, do jeito que minha família me ensinou: fantasia de carnaval – dessa vez num banho a fantasia no meu chuveirão tão sonhado – ao som de marchinhas de carnaval. Festejando Momo em família, como deve ser. Aliás, vou reservar um tempinho para celebrar o Carnaval lendo os poemas de Bandeira em voz alta, provavelmente para a surpresa dos vizinhos, pois sempre prezo pela discrição…Mas Carnaval tem de ter tradição e o amor pela literatura é uma das tradições da gente daqui de casa. Assim, Manuel Bandeira também vai embalar a folia desses 457 anos ,,,

Carioca como ele só, o  Cultura em Movimento, durante o mês de março, celebrará a cidade do Rio de Janeiro com imagens e poesia.

Comecemos hoje, como carioquíssimo Vinicius de  Moraes.

Que Deus nos abençoe e abençoe nossa ,por vezes tão sofrida, cidade, que não perde a alegria de viver, de cantar e de celebrar a pujança da vida e deste céu tão azul.

Fala poetinha:

a cidade em progresso

 

A cidade mudou. Partiu para o futuro

Entre semoventes abstratos

Transpondo na manhã o imarcescível muro

Da manhã na asa dos DC-4s.

 

 

Comeu colinas, comeu templos, comeu mar

fez-se empreiteira de pombais

De onde se vê partir e para onde se vê voltar

Pombas paraestatais.

 

 

Alargou os quadris na gravidez urbana

Teve desejos de cumulus

Viu povoarem seus latifúndios em Copacabana

De casa, e logo além, de túmulos.

 

 

E sorriu, apesar da arquitetura teuta

do bélico Ministério

Como quem diz: Eu só sou a hermeneuta

Dos códices do mistério…

 

 

E com uma indignação quem sabe prematura

Fez erigir do chão

Os ritmos da superestrutura

De Lúcio, Niemeyer e Leão.

 

 

E estendeu as longas panturrilhas

De entontecente cor

Vendo o vento eriçar a epiderme das ilhas

Filhas do Governador.

 

 

 

Não cresceu ? Cresceu muito ! Em grandeza e miséria

Em graça e disenteria

Deu franquia especial à doença venérea

E à alta quinquilharia.

 

 

Tornou-se grande, sórdida, ó cidade

Do meu amor maior!

Deixa-me amar-te assim, na claridade

Vibrante de calor!

 Vinicius de Moraes.

In: Roteiro lírico e sentimental da cidade do Rio de Janeiro,

onde nasceu, vive em trânsito e morre de amor o poeta Vinicius

de Moraes 

Companhia das Letras.

 

 

 

Eneida Damazio

Eneida Damazio

Eneida é mestre em Literatura Brasileira, Estudante de Jornalismo e aficionada por cultura e seus movimentos.