O que Menemosine, a Deusa da Memória, pode fazer por nós ?

O que Menemosine, a Deusa da Memória, pode fazer por nós ?

Por Cristina Nunes de Sant’Anna

Segundo a mitologia grega, Mnemosine era a deusa da memória, da lembrança.

Descendia de Urano – o céu – e Gaia – a terra -. A titânia era filha de uma primeira geração divina, geração surgida no tempo original onde ficaria o passado mais longínquo e que teria sido a geração de todos nós.

A palavra mnemônico se relaciona à memória, à lembrança: à Mnemosine.

De acordo com o mito, foi a deusa quem descobriu o poder da memória, nomeando vários objetos e criando conceitos para que os mortais conversassem sem brigar e pudessem se entender. Por isto é também considerada como aquela que tudo sabe e tudo lembra, sendo a criadora da linguagem.

Sem a existência de Mnemosine, não poderíamos hoje conhecer a história dos deuses gregos.

A importância da deusa da Memória era tamanha para os gregos que na obra Teogonia de Hesíodo ( sobre a origem dos deuses), a imortal é não só citada, como seu nome  liga-se ao termo grego mimnéskein, que significa lembrar-se.

Mnemosine + Zeus = 9 Musas

Menemosine apaixonou-se por Zeus, o deus dos deuses, conseguindo atrair seu amor e atenção com exímio talento de contadora de histórias. O pai dos deuses foi seduzido pela deusa da memória durante nove dias consecutivos. Meses depois, Mnemosine daria à luz às nove musas, também conhecidas como Filhas da Memória ou Musas elas nasceram para serem as protetoras das artes, ciências e letras.

O encontro de Zeus – metamorfoseado em águia – e Mnemosine na visão do pintor renascentista marco Libeeri (1640-1685)

Seus nomes são: Calliope, Thalia, Melpomene, Euterpe, Polymnia, Clio, Terpsichore, Urania e Erato. E vamos falar delas oportunamente no blog Literatura É bom Pra Vista. As filhas do casal de deuses também tinham por função presidir as diversas formas do pensamento: sabedoria, eloquência, persuasão, história, matemática, astronomia, sendo invocadas pelos poetas. A própria Teogonia se inicia com uma invocação às nove musas.

Mas seria graças ao poder de Mnemosine que a palavra, quase cantada, do poeta ecoaria por todo o Universo, fincando-se na nossa memória. Mãe e condutora das musas, a deusa da linguagem seria responsável pela revelação e conhecimento do mundo, por intermédio da memória, sendo auxiliada pelo canto envolvente das filhas. Revelação no sentido de trazer, pela memória, o tempo original (resgatar o tempo original) ao tempo da vida ordinária, a fim de que esta não se perca. Mas, ao contrário, revigorar-se, fortificada pela memória. É a memória que forja em nós exemplos a seguir, histórias a perpetuar, modelos a cultuar

A mãe com suas filhas imortais

Memória: muito mais do que simplesmente reviver o passado

Antepassados, tradições nos tornaram o que somos. O papel da memória, contudo, é mais do que reviver o passado. É nos tornar dignos de nós mesmos, olhando o passado e avaliando o que merece ser revisto ou não. Mantido ou não.

Mnemosine nos impede de esquecer quem somos, de onde viemos, além de nos ajudar com sua arte de contar histórias a sabermos onde queremos e como queremos chegar.

O futuro não existe. É o presente misturado ao passado que nos torna capaz de construí-lo.

O lugar mnemônico seria ,então, o lugar da nossa imortalidade, já que vive em nossos filhos, netos, nas histórias que compartilhamos, nos hábitos que tivemos e na memória imortal que deixamos. É esta memória imortal que compartilhamos que se imortaliza na língua que falamos, nas culturas que dividimos, nos nosso sentimentos coletivos. É, então, esta nossa memória imortal que nos faz melhores ao nos conceder o poder de não repetir o que não deve ser repetido e a engendrar outras memórias para o futuro. Que, repita-se, não existe. Mas está a nossa espera para existir.

Não é memória o lugar da retenção do conhecimento, da aprendizagem ? Não é a memória o lugar onde se inicia a elaboração do conhecimento científico? A memória que liga o presente ao passado, a fim de que partamos para o futuro.

Saiba mais:

Vamos curtir um vídeo super legal, tipicamente nerd. E só poderia ser assim:é do canal Nerdologia.

E aí, existe mesmo esse negócio de memória fotográfica ?! Descubra assistindo ao vídeo a seguir:

Canal Nerdologia: YouTube

Cristina Nunes
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Cristina Nunes

Cristina Nunes de Sant' Anna é jornalista doutora em Ciências Sociais e pesquisadora associada do Laboratório de Comunicação e Consumo, Lacon Uerj e criadora do blog fanpage Literatura é bom pra vista.