O Rio de Janeiro e as epidemias do início do século XX
O Rio de Janeiro e as epidemias do início do século XX
Por William Martins
A Febre Amarela — Boa. Desde meados do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro enfrentou sérios problemas no âmbito da saúde, epidemias como a febre amarela e varíola assolavam a cidade e castigavam principalmente as populações mais pobres que moravam nos cortiços da região central. A questão era tão presente do cotidiano da população carioca que em várias peças do teatro de revista, que tinha como personagem principal a cidade do Rio de Janeiro, as doenças apareciam como personagens vivos. No Tribofe, por exemplo, peça escrita por Arthur de Azevedo e de grande sucesso na época, a Febre Amarela e a Varíola tem um diálogo no qual mostra, que quando uma sai, outra entra:
A Febre Amarela — O Tempo está refrescando. E tempo de me pôr a panos. Vou me embora. Oh! Varíola! chegas agora?…
A Varíola — É verdade, Febre Amarela!
A Febre Amarela — E eu parto.
A Varíola — Venho substituir-te. (Apertando-lhe a mão) Foste feliz?
A Febre Amarela — Felicíssima.
A Varíola — Que tal a Inspetoria de Higiene?
A Varíola — E a Intendência Municipal?
A Febre Amarela — Ótima!
A Varíola — Ainda bem! Até a vista!
A Febre Amarela — Sê feliz.
A elite brasileira reagiu aos problemas sociais procurando modernizar a cidade, aos moldes parisienses, assim Rodrigues Alves (1902-1906) assumiu o governo implementando o que havia sido uma de suas plataformas eleitorais: o saneamento e a extinção das endemias da Capital. Para que lograsse sucesso na empreitada, Rodrigues Alves nomeou para prefeito, com amplos poderes, o engenheiro Pereira Passos, que foi o responsável pelas grandes obras que pretenderam levar o Rio de Janeiro a ser uma “Paris dos trópicos” e, para diretor do Serviço de Saúde Pública, o médico Oswaldo Cruz.
Foi o médico sanitarista que comandou a vacinação forçada da população contra a febre amarela, desencadeando a revolta da população no episódio que ficou conhecido como a Revolta da Vacina, em 1904. Foi também pelo empenho de Cruz que foi construído o que hoje é o principal prédio da fundação Oswaldo Cruz, em Maguinhos.
As epidemias na cidade acabavam por desorganizar o cotidiano da população, além do enorme número de vítimas fatais, as consequências que ela trazia eram tenebrosas para os que continuavam vivos, notadamente a fome. Os jornais do Rio de Janeiro denunciavam a situação dos mais pobres da Capital Federal, a carestia e o fechamento de estabelecimentos comerciais lançavam uma grande parcela da população à miséria.
A cidade vivenciou outras epidemias, tal como a gripe espanhola que falaremos na próxima coluna, de qualquer forma a história mostra que vivenciamos um quadro complexo de alterações, mudanças, adaptações e emergências típicas dos fenômenos vivos. A resposta que os governos deram frente às diversas endemias nos mostra a necessidade de cuidarmos das populações mais carentes nesses momentos, pois além dos males causados pelas doenças, o mal causado pela falta de cuidados com as populações mais pobres, é devastador.
Créditos das Imagens:
gestaoeducacional.com.br
consciênciatranquila.com
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