Oxum – a bela Senhora do Mel
Oxum – a bela Senhora do Mel
Por Eneida Salles Damazio
Quem tem Oxum como o orixá do ori – o principal da cabeça – sabe que apesar de todas as tribulações por que se passa na vida, terá uma mãe que o protegerá e cuidará para que seus caminhos sejam suaves e doces.
Oxum é a deusa da beleza e da meiguice, meio mulher, meio menina, esse orixá vaidoso e sedutor é a divindade do amor entre os seres humanos.
Rainha da nação Efan, Oxum tem o nome de um caudaloso rio africano que banha as regiões de Ilexá, Ijebu e Oshogbo, na Nigéria.
Rainha sim, pois que filha de Oxalá e Iemanjá. Favorita de Iemanjá que a ela presenteou com o domínio sobre as águas doces: as pujantes águas dos rios, das cachoeiras, dos córregos. Assim faz de Oxum, a grande mãe mantenedora da vida no planeta.
Ainda de seus pais ganhou muitos presentes, principalmente joias e metais preciosos, pois ao perceberem sua vaidade, alimentaram-na, dando-lhe os recursos necessários para que se enfeitasse, sempre com muito requinte e refinamento. Daí vem seu título de Senhora da Riqueza.
Sempre elegante, tem como traço marcante as pulseiras de cobre ou de ouro, os chamados idés. Ao chacoalhá-las, reproduz o som das águas doces ao correrem pelas pedras das cachoeiras e cascatas.
Na Nigéria, o metal que lhe era consagrado era o cobre; quando seu culto chegou ao Brasil o ouro era o metal mais valioso e abundante, por isso passou a ser dedicado a doce e bela Senhora do Mel.
Sim, o mel é um dos elementos favoritos dessa iyabá, pois ela também simboliza a doçura, o apaziguamento, a calmaria e a tolerância que deveria sempre haver entre os homens. Curiosamente, o mel também está ligado ao simbolismo do sangue, pois é tido, para os africanos , como o “sangue das flores”. O sangue é o elemento do corpo humano que mais se relaciona com Oxum, pois ela é o orixá que preside a gestação, a maternidade e o nascimento.
Embora seja integrante da sociedade das Iyamís – as mães ancestres – é no seu aspecto mais velho que pertence ao grupo das Ajés, feiticeiras poderosíssimas que tanto promovem a paz como a guerra e a desarmonia. Pois Oxum é inconstante como o movimento das águas e por isso mostra-se ora dócil, ora voluptuosa, ora guerreira ou apenas irada e rabugenta.
Mas, na maioria das vezes, ela se apresenta com graça e alegria. É a divindade símbolo da jovialidade e feminilidade.
Adora festas, lá saboreia doces e bolos, iguarias que lhe pertencem, e nessas festas dança como ninguém o ijexá. E quando, no ritmo dessa dança, remexe os ombros a todos seduz, a todos encanta e a todos apaixona.
Foi assim que fez com Orunmilá, Xangô e Ogum. Mais ainda vez com seu grande amor e companheiro, o caçador Oxóssi.
Ela o completa, fornecendo as doces águas, que irrigam as florestas e matam a sede dos animais desse belo caçador.
Enfim, salve Oxum e seu axé que permite a continuidade e a manutenção da vida na Terra – o aiê – e que pela gestação e pelo bom uso das águas doces faz a vida frutificar em abundância.
Fonte de Consulta:
Barros, Marcelo (organizador).O candomblé bem explicado: nações bantu, iorubá e fon. Pallas Editora.
Saiba mais:
Cante com Ritta Benneditto o ponto É d’Oxum e aproveite para conhecer a dança do ijexá:
Assista ao documentário Eu Oxum e conheça a fala do povo do santo sobre essa doce iyabá:
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