Tecendo a História 2 -Laudelina de Campos Melo –ativismo da negritude e defesa das domésticas
Tecendo a História 2 -Laudelina de Campos Melo –ativismo da negritude e defesa das domésticas
Por Eneida Salles de Souza Damazio
Dando continuidade às comemorações pelo Dia Internacional da Mulher, continuamos a série de minibiogafias de nossas ativistas que , como hábeis tecelãs, teceram novas estuturas e novos caminhos que possibilitaram uma vida menos injusta para as mulheres brasileiras.
Geralmente, quando pensamos em líderes de movimento feminista no Brasil, pensamos em artistas, intelectuais. Mulheres que tiveram possibilidade de adquirir a conscientização política de sua condição feminina a partir de uma posição privilegiada em relação à maioria dos brasileiros, sejam homens ou mulheres.
Nossa liderança feminina de hoje é uma mulher do povo, cuja profissão foi e ainda é muito desprestigiada socialmente.Uma profissão mal remunerada, embora, no discurso do homem e da mulher ‘cordiais” deste nosso Brasil,seja retratada como aquela que é”praticamente da família”… só que não, infelizmente.
Hoje falamos de Laudelina de Campos Melo, a mulher que deu os primeiros passos para organizar, sindicalmente, as empregadas domésticas.
A vida foi, desde cedo,muito dura para Laudelina : já aos sete anos de idade trabalhava como empregada doméstica,em Minas Gerais, o que era uma realidade muito comum para meninas negras e pobres do Brasil inteiro no início do século XX..
Essa experiência, aliada à consciência da força e riqueza da cultura negra, fez de Laudelina ainda muito jovem uma mulher preocupada com as condições das mulheres que lhe eram contemporâneas. Por isso, aos 16 anos foi eleita presidente do Clube 13 de Maio, agremiação que promovia atividades recreativas e políticas para a população de origem negra em Poços de Caldas, sua cidade natal.
Mesmo depois de casar e mudar-se para Santos, em São Paulo, continuou com sua militância. Em 1936, fundou a primeira associação de trabalhadores domésticos do país. Mas com a instauração do Estado Novo, essa associação só voltou a funcionar a partir de 1946 com a abertura do regime.
Em seguida, em 1961, precisamente, funda a Associação Profissional Beneficente das Empregadas Domésticas. A iniciativa influencia a criação de outras entidades nos estados e culmina, em 1988, com a criação do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos.
A partir de 1970, com sua atuação ajudou para que as domésticas tivessem direito à Carteira de Trabalho e à Previdência Social. Uma vitória dessa mulher forte e que dedicou uma vida inteira ao coletivo, cônscia de sua condição feminina, negra e trabalhadora. Salve Laudelina !
Saiba mais:
Que tal verificarmos na prática como se dá o tensionamento de relações dentro do espaço privado entre patrões e domésticas vendo o excelente filme Que horas ela volta ? e para manter o clima de cineclube com direito à análise da obra enquanto metáfora do nosso tecido social ?
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