RACISMO, NÃO. RACISMO, NÃO. RACISMO, NÃO. NÃO. NÃO. NÃO

RACISMO, NÃO. RACISMO, NÃO. RACISMO, NÃO. NÃO. NÃO. NÃO

Por Cristina Nunes de Sant’Anna

É, de fato, constrangedor ainda ter de escrever sobre racismo em pleno século XXI. Mas é necessário. Mais do que necessário, eu diria que se trata de um dever.  Ler, pesquisar, saber, para exorcizar, de uma vez por todas, o racismo. Episódios de racismo costumam estar acompanhados de violência. Mas racismo, para quem ainda não sabe ou finge não saber, é crime inafiançável e imprescritível no Brasil, tipificado pela Lei 7.716/1989.  

Uma resolução que investigue racismo sistêmico, bem como violações contra direitos humanos de africanos e pessoas com ascendência africana foi aprovada pelo Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas — a ONU.   O documento, acatado por consenso no dia 19 de junho, foi proposto em regime de urgência por 54 países africanos, após o assassinato do americano George Floyd em 25 de maio. Floyd foi sufocado até a morte, após ser rendido por quatro policiais, sob a acusação de tentar passar uma nota de US$ 20 falsa. O crime vem desencadeando protestos em várias partes do mundo.

No Brasil, crianças e jovens negros vêm cada vez mais perecendo sob incursões policiais, em bairros e comunidades pobres. Mais de 75% das vítimas de homicídios no país são negros. Os dados são do Mapa da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, datado de 2019. Organizações do movimento negro alegam que assassinatos contra negros vêm aumentando, sobretudo nos últimos anos.

JOÃO E A LEI

Um destes negros abatidos chamava-se João Pedro Mattos. Tinha 14 anos, estava dentro da casa de uma tia, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, município do Estado do Rio de Janeiro. Era um 18 de maio, quando o garoto jogava sinuca com outros seis amigos. Policiais cercaram a área, entraram na casa onde estava, dispararam 70 tiros e mais um brasileiro negro estava morto. Desta vez, o João.

Último país a revogar a escravatura, nosso país tem mostrado flagrantes de racismo em partidas de futebol, nas redes sociais e onde mais houver lugar para gente racista. Vem de longe, muito longe, tal sanha. O escritor e ensaísta Gilberto Freyre nos conta, em seu livro Sobrados e Mocambos, publicado em 1936, que no Brasil Império, fidalgos estupravam meninas negras escravas para tentar curar a sífilis, no sangue ainda puro das pobrezinhas, como diziam.

No livro O Mulato, de Aluísio de Azevedo, escrito em 1881, o bacharel Raimundo, mulato, filho de uma escrava e um português, não pôde se casar com a amada, sua prima, branca. O rapaz foi assassinado por em empregado do pai da moça, seu tio, a mando de um padre da família. Azevedo vai nos contar também que Raimundo não era aceito pelas gentes brancas dos sobrados, amigos e parentes de seu tio.  A avó de sua amada dizia que preferia a morte da neta, a vê-la casada com alguém de cor. E o Brasil veio descendo a ladeira com seu racismo feio e estrutural. Azevedo vai nos contar também que Raimundo não era aceito pelas gentes

Fonte: Internet

Quando estudante, no início do século XX, o jornalista negro Lima Barreto ouviu de colegas no colégio como um negro poderia ostentar o nome do primeiro rei de Portugal. É que o nome do escritor era Affonso Henriques de Lima Barreto. Anos depois, em casa, recebe um postal anônimo, com a foto de um macaco, em que se lia que, era ele, o macaco.

Não foi bem aqui no século XXI, outro dia mesmo, que ouvimos torcedores gritar “macaco”, para jogador de time adversário??

A GUERRA DO PARAGUAI

Grande parte dos Voluntários (sic) da Pátria, recrutados para a Guerra do Paraguai era de escravos e ex-escravos. Muitos destes últimos somente alforriados para entrar no conflito. O Imperador Pedro II, por exemplo, libertou todos os escravos de fazendas nacionais para que lutassem na contenda. Os escravos foram o principal “material humano” disponível para a guerra do Paraguai.

Imagem de pelotão formado por negros durante a Guerra do Paraguai: a participação dos negros favoreceu o processo de abolição da escravatura. Fonte: Internet

Práticas arraigadas, históricas, culturais, renitentes e recorrentes no meio de uma sociedade que considera o não-branco inferior e desenvolve práticas que mantenham a desigualdade entre seres humanos. Assim, tipo elevador social. É racismo estrutural que fala?

Saiba mais sobre a obra O Mulato :

Baixe, gratuitamente o livro na íntegra:

http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/o_mulato.pdf

Assista a uma resenha da obra O Mulato de Aluísio Azevedo:

Fonte: Canal Cultura & Ação – You Tube

Cristina Nunes
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Cristina Nunes

Cristina Nunes de Sant' Anna é jornalista doutora em Ciências Sociais e pesquisadora associada do Laboratório de Comunicação e Consumo, Lacon Uerj e criadora do blog fanpage Literatura é bom pra vista.