A tradição da fogueira nas festas juninas

A tradição da fogueira nas festas juninas

Por William Martins

Estamos vivenciando um momento histórico que raramente o mundo passou, nos isolamos e vem sendo necessário um distanciamento não só dos nossos familiares e amigos, mas também das nossas atividades cotidianas. A cultura tornou-se um lugar onde temos encontramos refúgio para esse momento. Ouvir músicas, ver shows nas inúmeras lives que tem surgido, ver filmes tem sido a forma que muitas pessoas encontram para encarar esse período.

Uma das manifestações culturais mais fortes que temos no Brasil é a festa junina, que reúne anualmente centenas de pessoas em várias partes do país, mas tem o nordeste como o lugar onde acontecem as maiores festividades, com danças, comidas típicas, vestimentas especialmente preparadas para a ocasião e muitas fogueiras. As cidades de Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, competem pelo título de “Maior São João do Mundo”, os festejos contam com mais de 1,5 milhão de pessoas. 

Crédito da Imagem: Café Imaginário

As festas juninas tem especial lugar na cultura popular, vale refletirmos sobre os elementos simbólicos que estão representados nessa tradição. Um desses elementos é a fogueira, tradicionalmente acessa durante a comemoração de Santo Antônio, São João e São Pedro, ela é conhecida como fogueira de São João.

Crédito: Internet

O fogo tem lugar de destaque em todas as culturas, não é para menos, o avanço da humanidade acontece por conta do domínio do fogo, assim inúmeros povos tem a tradição de acender fogueiras como parte de suas festividades. No hemisfério norte o solstício de verão ocorre no dia 21 ou 22 de junho, quando o dia é mais comprido e a noite mais curta.  Civilizações antigas como gregos e celtas comemoravam a data como uma celebração de fertilidade, rogando aos deuses que garantissem boas colheitas. Essas festas tinha muita comida, bebida, dança e fogueiras.

Festival de Beltane é um festival de fertilidade simbolizando a união entre as energias masculina e feminina, a fertilidade da Terra e os fogos do deus celta Bellenos.
Crédito da Imagem: Espaço Gaia

Na Europa as fogueiras saudavam a chegada do verão até o século VI, quando a igreja católica passou a associar as tradições pagãs à data de nascimento de São João. Segundo a tradição católica, Isabel fez uma fogueira para avisar sua prima Maria do nascimento de seu filho, São João. A ligação entre cultura pagã e cristianismo é reproduzida até hoje nas nossas práticas culturais, que foram trazidas para o Brasil pelos colonos portugueses. Essas celebrações eram chamadas de festas joaninas, mas com o tempo ficaram conhecidas como juninas.

No dicionário do folclore brasileiro, Câmara Cascudo destaca que São João é comemorado com muita alegria, comida, músicas e dança, tal como um deus dionisíaco. Conta a tradição que São João dorme durante o dia dedicado a ele, caso ele estivesse acordado não resistiria ao clarão das fogueiras acesas e desceria do céu para acompanhar os festejos e o mundo acabaria pegando fogo.

Santa Isabel, Santa catarina, Virgem Maria , o Menino Jesus e São João menino na tela de Rafael – domínio público

Curta essa noite de São João ao som de São Xangô Menino, na voz de Elba Ramalho: fonte Spotify

Composição de Caetano Veloso e Gilberto Gil

William Martins

William Martins

William Martins é Historiador, especialista e apaixonado por Rio de Janeiro e seus divertimentos. Co-criador do Lugar de História: consultoria e projetos educacionais.