A alma encantadora de João do Rio
A alma encantadora de João do Rio
Por William Martins
O que caracteriza a coluna e o projeto Rolé Carioca é o nosso espírito de flâneur, esse amor por caminhar pelas ruas da nossa cidade, fundindo através dos passos, nosso espírito à alma das ruas e do povo que por elas caminha.
Em certo sentido, somos herdeiros diretos de um certo João do Rio. Por isso, devemos conhecer um pouco mais esse personagem verídico que Paulo Barreto inventou, brindou e doou generosamente não só à tradição do povo carioca, mas, principalmente à Literatura Brasileira.
No dia 23 de junho de 1921, a cidade do Rio de Janeiro amanheceu triste, rapidamente chegava ao conhecimento de toda a população a notícia da morte de João do Rio. Morreu de infarto fulminante em um taxi no bairro do Catete, fazendo o que mais amava, andando pela cidade. Os necrológios publicados dão conta da importância desse personagem para os cariocas, tanto que no seu enterro compareceram aproximadamente 100 mil pessoas para dar um último adeus. Sem dúvida foi um dos enterros mais concorridos da época.
Paulo Barreto nasceu em 1881, durante sua vida o Rio de Janeiro era o local onde se encontravam boêmios, dândis, jornalistas e intelectuais. Eles se reuniam em cafés e restaurantes no centro da cidade, nestes encontros debatiam as últimas novidades literárias, políticas e da vida social parisiense. Projetando o ideal de sofisticação a partir dos conceitos de civilização e modernidade na sociedade carioca.
Paulo Alberto Coelho Barreto, conhecido como João do Rio, um dos muitos pseudônimos utilizados pelo autor para assinar suas colunas, era um dos jornalistas mais conhecidos da Belle époque carioca, e também conhecido como o flâneur da cidade.
No seu livro mais conhecido, A Alma Encantadora das Ruas, João do Rio diz que:
Para compreender a psicologia das ruas não basta gozar-lhe as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso Ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes – a arte de flanar.
Embora tenha dedicado sua vida ao jornalismo, não foi sua primeira opção, na verdade seu desejo era ser diplomata, mas, por ser entendido como mulato e por ser homossexual, foi rejeitado pelo Itamaraty.
Um dos necrológios publicados quando do seu falecimento, nos oferece a maneira de ser do escritor.
O seu gesto mole, o seu olhar enfastiado, todo o seu ar de agressivo pouco caso, revelaram que ele encontrava, nesse enjôo aparente das coisas, o meio melhor de ser notado (…) em Paulo Barreto havia uma ebulição permanente de sensações. O seu temperamento era de um sensível exasperado, na trama de cujos nervos passavam rápidos, brilhantes os reflexos das coisas.
João do Rio fundou o jornal A Pátria e foi o precursor de um jornalismo investigativo, no qual o repórter vai até o local colher entrevistas, relatos e suas impressões. Por isso andou por toda a cidade, da zona norte a zona sul e colocando no papel em formas de crônicas e contos seu olhar. Ler João do Rio é ser transportado para o Rio da Belle Époque.
Saiba mais:
Conheça um pouco mais de perto a obra de João do Rio:
Em O homem da cabeça de papelão, conto fantástico interpretado pela atriz Maria Luisa Mendonça, veja como João do Rio ainda responde às questões atuais do Brasil:
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