Fotografando lá de cima

Fim dos anos 50 morava em Botafogo-RJ, atrás de uma grande revendedora Volkswagen.
Aguardava ansioso a chegada de novos carros. O cheiro, as cores, a quantidade de carros
novinhos dispostos nos dois andares em cima de um caminhão.
E a destreza dos motoristas?
Saiam correndo com os carros, os fusquinhas pareciam dar um pulo e… vupt, estavam dentro
da garagem.
As kombis exigiam mais cautela? Que nada… num instante saíam contentes como crianças,
livres para a farra.
Nesta época, a máquina fotográfica era do meu irmão. Um dia, peguei essa máquina e sem
que ninguém me visse fui para cima de um caminhão desses.
Entrei rápido na Kombi que restara na parte de cima do caminhão, sentei no banco do
motorista, segurei no volante e dei a partida. Só então observei várias pessoas subindo rápido
na minha direção.


Eu precisava sair. Mas como é mesmo que se faz um carro andar? Ah lembrei! Empurra a
alavanca de câmbio para frente e pisa fundo no acelerador. Foi um barulho malcriado de
metais, e um cantar de pneus com direito a fumaça intensa e cheiro de borracha queimada.
Deveria ter dado uma ré, mas não. Fui em frente, correndo a extensão da carroceria do
caminhão até passar pela cabine e………voar.
Que delícia! Acelerar para subir, mover o volante lentamente, para onde eu quisesse ir,
devagarzinho mesmo para não cair.


Eu voando de Kombi!
Como o meu bairro era bonito alí de cima! E fotografava tudo!!!
O sol entrava pelas janelas brilhando todo o interior do carro. Como era grande lá dentro!
E me veio uma vontade forte de subir mais alto… mais alto… muito mais alto! Já estava acima
dos pássaros, o horizonte meio torto, meio certo.
Mas ir para onde? Não importa. Vou em frente sentindo o motor girando bonito e um
cheirinho de carro novo, delicioso!
Mas o motor começou a reclamar. Pouca gasolina.
O que fazer para descer? Sei lá.
Então apertei de leve no freio. A frente se inclinou um pouquinho para baixo. Acelerei de
mansinho.

A Kombi deslizou no ar. Fui de leve em leve fazendo a volta para o chão.
Mirei na praia de Copacabana. Linda vista! Que droga, por que descer? Aqui está tão bom!
Lembro de um urubú me acompanhando na descida. Que mau agouro que nada, estava
sinalizando para os colegas: “Cuidado gente, tem bicho maluco voando !”
E tomou conta de mim até pousar na areia e…………. acordei.
Eita que foi bom demais!
Saí da cama como um herói. Eu herói de mim mesmo.
Lembro que naquela manhã olhava para as pessoas com um certo ar de superioridade.
Queria perguntar a cada um:
-Me viu voando numa Kombi?
E as fotos que tirei?? Será que um dia vou ver??
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