Magé de memórias e as histórias escondidas

Magé de memórias e as histórias escondidas

Quando ouvimos falar de Magé normalmente não nos ocorra o potencial turístico do local, talvez pelas matérias que ganham e não ganham visibilidade nos canais tradicionais de imprensa, mas o fato é que este município da Baixada Fluminense esconde belas paisagens, uma história imperial única e, é claro, algumas ruínas.

Nessa minha busca pela história perdida do Rio de Janeiro através do Projeto Ruínas pelo Rio, sobre o qual tenho o prazer de escrever aqui no Cultura em Movimento, eu tenho me deparado com alguns locais que eu, em meu senso comum, jamais imaginaria existir. Em Magé eu tive um pouco de alguns esteriótipos desconstruídos muito com a ajuda do entusiasta e graduando em História pela UCP e pesquisador de história de Magé e da Baixada Fluminense, Carlito Lopes de Oliveira Junior, que alimenta um perfil no Instagram chamado @historiademage. Graças a ele e ao incentivo da querida amiga Vanessa, do @girodacarioca, que este projeto está sendo possível.

Antes de falar sobre as belezas de Magé, que só isso renderiam alguns posts, queria deixar claro que a ideia desse projeto não é substituir quem faz o belo trabalho de turismo histórico, mas mostrar que o Rio é muito mais que os pontos turísticos tradicionais. Mas vamos a Magé.

Eu não consegui visitar todos os pontos que queria, mas tenho certeza que esses irão tirar seu fôlego.

Guia de Pacobaíba, ruínas de Porto Estrela.

Magé possui a 1ª Estrada de Ferro do Brasil e 3ª da América Latina. Foi inaugurada em 30 de abril de 1854, por Irineu Evangelista de Souza, Barão e Visconde de Mauá. No local ainda é possível encontrar a velha estação, a casa do vigia e seu píer, onde chegavam a família real indo em direção à Petrópolis e ao interior do Brasil. A Estação teve ainda a primeira locomotiva do País, a velha Baronesa, onde o Brasil pode ver o rodar de uma “Maria-fumaça”. Uma visita ao local permite ao turista conhecer a velha Estação de Guia de Pacobaíba, na praia de Mauá, de onde partia a Baronesa e seguia até Raiz da Serra, a Casa do Vigia e o antigo Píer do Porto Mauá.

Esta foi a primeira estação de trem do Brasil e contou com a presença de D. Pedro em sua inauguração. Inaugurada em 30 de abril de 1854, a estrada férrea da Estação da Guia de Pacobaíba teve a ilustre presença do Imperador Dom Pedro II. Neste dia, o Imperador deu a Ireneu Evangelista o título de Barão. A partir de então, o Sr. “Irineu” passou a usar o nome de Barão de Mauá, como o povo da região também designou a localidade. Entraram assim para a História do Brasil!

Igreja Sant’anna (Igreja de Pedra)

Entre Magé e Guapimirim, próximo a RJ-116, em uma estrada de terra, fica essa construção passou séculos desaparecida. Hoje, sem sombra de dúvidas, é a que está em melhor conservação de todas as que visitei. Em 1995, a partir de um trabalho desenvolvido pela paróquia de Magé, registrou-se a existência de ruínas remanescentes de uma outra capela de mesmo nome, situada na localidade denominada Vila Inca – a antiga capela de Sant’Ana de Iriri, citada na obra de Monsenhor Pizarro como edificada em 1737.

Informações do @historiademage contam que a ausência de dados sobre a capela criou certa confusão, a qual refletiu nos registros históricos que a vinculavam à Capela da Piedade. Esta última data da segunda metade do século XIX, alguns muitos anos depois. Quando a capela foi encontrada, ela estava em um estado deplorável, o que nada se parece com a realidade atual. Na reconstrução, foram utilizados materiais da própria capela que estavam pelo chão.

As Ruínas da Capela Histórica de Sant’Anna bem como todo o terreno em torno da capela pertencem à Diocese de Petrópolis sob a administração da Paróquia Nossa Senhora da Piedade em Magé. Sendo assim, qualquer evento a ser realizado neste local precisa de autorização da paróquia.

Paróquia de São Nicolau de Suruí em seus três séculos de existência

OK, pode até ser que a matriz, atualmente, não seja considerada uma ruína por conta do seu estado de conservação e de sua usabilidade, mas esse marco já esteve presente em sua história, o que eleva o caráter histórico do monumento.

Suruí viveu sua época áurea no século XVII, pois muitas capelas e engenhos floresceram, fazendo com que a freguesia de São Nicolau de Suruí assumisse papel importante pela presença nessas terras de uma capela sob a invocação de Nossa Senhora de Copacabana. Segundo historiadores, fosse por decadência do templo ou outros inconvenientes, mudaram a pia batismal para a capela dedicada a São Nicolau no ano de 1628, em que, para poder celebrar Missa na mesma casa, fez-lhe patrimônio de 200 braças de terras de testada (Braça é uma antiga medida de comprimento equivalente a 2,20 metros linearmente) , com 1500 de sertão ou mais, pelo rio Suruí acima.

Felix de Proença Magalhães, casado com Dona Águeda Gomes de Perada, anos mais tarde, foi comprador dessas terras em que se achava construída a capela de São Nicolau. “Talvez pela ruína e decadência em que se achava a capela” ou pela distância do centro mais populoso da freguesia, em 1695, o casal começou a erguer num monte ficando do lado esquerdo do rio Suruí.

A obra da atual Igreja de São Nicolau foi concluída 13 de dezembro de 1710 após falecimento do Sr. Félix. Em 1925, 2012 e 2013, segundo registros da Igreja, algumas obras foram realizadas.

Fontes das informações do texto: @historiademage ¦ Relatos do restaurador Sr. Luiz Álvaro Esteves ¦ Livro do tombo da paróquia São Nicolau ¦ Anais do Museu Histórico Nacional, volume XV – 1965 ¦ Paróquia de São Nicolau.

Flavia Ferreira

Flavia Ferreira

Jornalista e viajante nas horas vagas. Sou apaixonada por conhecer novos locais e culturas, assim como por um café quentinho e uma bela taça de vinho.