Tambor de Crioula: um louvor ao universo feminino

Por Lia Salles Damazio

Você conhece uma dança executada somente por mulheres afrodescendentes  pertencentes às classes sociais mais baixas do estado e que recebeu o registro do Patrimônio Imaterial Brasileiro ( decreto 5551/ agosto de 2000) ?

Pois isto aconteceu no estado do Maranhão e a dança se chama Tambor de Crioula.

Como se dança o Tambor

É uma dança em formato de roda, sem regras fixas nem coreografia rígida. As mulheres iniciam a dança após saudar os instrumentos.

Uma das dançarinas fica no centro da roda dando volteios, vai rodopiando, rodopiando até que, com uma umbigada, convida outra brincante ou dançante – como eles chamam as dançarinas –  para substituí-la e assim sucessivamente até todas dançarem. Suas roupas mais característica são as saias rodadas e bem coloridas, todas da mesma cor.

Há homens também que são brincantes e usam camisas da cor da saia das mulheres.

Os homens são chamados de coreiros e sua função é entoar os cantos e tocar os tambores; o conjunto de tambores é constituído por três tambores chamados de Grande, Meião e Crivador.

Os cantos são entoados por um brincante e repetido pelos outros.

Duração da Festa

Os participantes oferecem um toque de Tambor de Crioula durante uma noite inteira e pode se realizar na rua, em frente à casa do devoto do tambor que esteja adoentado, por exemplo, ou num terreiro de mina.

O terreiro de mina é o local onde se realizam o culto do Tambor de Mina, religião de matriz africana muito difundida no Maranhão, estado que recebeu grande contingente de africanos oriundos da costa situada a leste do Castelo São Jorge de Mina, atual Gana, e de outros africanos conhecidos como negros mina-jejê e mina-nagôs que vieram para o país escravizados dos territórios em que hoje estão estabelecidas as repúblicas de Togo, Benim e Nigéria.

Época da Apresentação

O Tambor de Crioula pode ser apresentado em qualquer época ou local, pois ele é uma forma de pagamento por uma graça alcançada. Por exemplo quando um enfermo recuperou a saúde, o Tambor é apresentado em frente à sua casa. Mas também pode ser apresentado por causa de um aniversário, uma formatura, festa junina e até mesmo no Carnaval.

Em 1938, a Missão de Pesquisas Folclóricas, organizada pelo grande escritor Mário de Andrade que também era folclorista, assistiu apresentações do Tambor de Crioula e por falta de mais informações desconhecidas pelos estudiosos foi considerado como dança de feitiçaria, o que revela o grau de incompreensão da herança cultural africana, até mesmo por parte de um artista como Mário.

No ano de 1950, o folclorista Edson Carneiro, estudando o samba no Brasil, considerou o Tambor de Crioula como uma variedade do samba de umbigada – samba este existente no Pará, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e constatou que a umbigada é uma forma de convite à dança.

Por isso, O Cultura em Movimento, neste mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher,f az essa pequena homenagem às mulheres afrodescendentes que , como as brincantes do Tambor de Crioula, preservam a beleza e a força do nosso folclore.

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O imparcial