Tem Boi no Carnaval
Por Lia Salles Damazio
“Cada terra tem seu uso e cada roca tem seu fuso”, já dizia um velho ditado. E isto é verdade. O Carnaval em cada país, em cada estado ou em cada município acontece de acordo com seus costumes e com a cultura local.
No Brasil não é só no Rio, Salvador, Recife ou São Paulo que a folia acontece a todo vapor. Em várias cidades interioranas, o Carnaval é uma festa muito esperada pela população. Isso é facilmente comprovado, por exemplo, com a folia carnavalesca do Boi-à-Serra do estado de Mato Grosso.
O Carnaval do Boi-à-Serra
Esta festança acontece na cidade de Santo Antônio de Leverger nos bairros Aquino e São Gonçalo Beira- Rio, entre outros.
A festa do Boi-à-Serra acontece no Carnaval, mas a população já começa a envolver-se na festividade a partir do dia 8 de dezembro, dia de N. Sra. Da Conceição – protetora das águas – quando fazem a brincadeira do Entrudo, tradição de origem portuguesa precursora do nosso Carnaval em que os participantes são molhados como se participassem de uma batalha.
A partir o dia 8 de dezembro, todas as noites até o Carnaval, o Boi sai. Há registros de que essa tradição data de 1900.
A confecção do Boi
O personagem principal deste folguedo é feito a partir de uma estrutura de madeira bem leve e flexível chamada melado de pomba que é coberta por um cobertor, formando o corpo do boi. No corpo também pode ser utilizado um tecido estampado, ao invés de um cobertor, como no Bumba-Meu-Boi do Nordeste.
Já a cabeça é feita com a carcaça de uma cabeça mesma de boi ; é uma cabeça já seca, pintada de tinta escura e onde dois botões são colocados no lugar dos olhos.
Com a cabeça e o corpo já feitos, a armação está pronta e dentro dela vai um folião que dança o tempo todo, corre atrás das crianças, finge dar chifradas nas pessoas e faz outras brincadeiras.
O Boi nunca está sozinho, há personagens que o acompanham, dependendo da localidade onde se apresenta. As outras personagens podem ser a mãe do morro, o tuiuitu , a ema e o morcego.
O ritmo que anima a saída do Boi é o cururu tocado por viola, cocho e ganzá. Os músicos são chamados, por isso, de curureiros .
No município de Santo Antônio existem três grupos de Boi- à – Serra: o Boi Estrela no bairro Lixá, o Boi Lendário no bairro Fronteira e o Boi Pantaneiro no bairro Nossa Senhora de Fátima. Nestes dois últimos, participam setenta e oito famílias e cem outros membros entre crianças e adolescentes, apresentando-se todos os anos com o objetivo de difundir e fortalecer essa tradição da cultura popular matogrossense.
O passado e o futuro do Boi- à- Serra
Existem muitas versões para a origem dessa festividade. Mais uma das versões parece ser a mais provável.
Conta-se que, na época da mineração, chegou a Cuiabá um baiano muito festeiro. Ao frequentar as festas, ele percebeu que não havia a dança do Boi e disse:
– Festa sem Boi não fica animada !
Então ele mesmo resolveu confeccionar o Boi e foi assim que surgiu o primeiro de muitos nesta região. O sucesso foi tamanho que o Boi era convidado a participar da festança na Serra. E lá se ia o Boi nem sempre tendo transporte para ser carregado, muitas vezes sendo levado nas costas do pessoal. E neste levar o Boi, diziam “ Vamos levar o Boi à serra.” Em algum momento, alguém quis saber qual nome dariam ao folguedo, veio então a ideia de chamá-lo de Boi- à – Serra.
Se não se sabe ao certo sobre o passado do Boi, procura-se dar a ele a segurança de um futuro.
Neste ano de 2020, o estado do Mato Grosso selecionará vinte estudantes da Unimate para formar um grande grupo de dança do Boi- à –Serra. Os estudantes aprenderão os passos da dança e a tocar os instrumentos para preservar a riqueza cultural do folclore do estado.
Sendo assim, que venham muitos outros carnavais para o Boi subir a serra e levar a todos sua alegria ingênua e cativante.
Créditos da fotografia: Leverger News
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