Anderson Suzart, do Cia Pão com Teatro, luta contra a vitimização da arte de periferia

Anderson Suzart, do Cia Pão com Teatro, luta contra a vitimização da arte de periferia

Por Evandro Machado

Anderson Suzart é o nome artístico de Anderson Fontes Suzart Miranda, um biomédico de formação, mas ator e agitador cultural pelos caminhos de coração

Aos 28 anos, esse morador de Bonsucesso – tradicional subúrbio carioca – percorre a estrada da arte já há mais de uma década. Tudo começou quando aos 10 anos pisou pela primeira vez num palco. Foi na escola que descobriu o teatro de Maria Clara Machado, ao encenar O Rapto das Cebolinhas, um clássico do teatro infantil brasileiro já naquela época.

Tomou gosto pela coisa e até hoje estuda teatro e arte de forma autônoma sempre em contato com grandes mentores como Sandra Serrado, Evandro Machado e  Márcio Vasconcellos,  o que faz com que ele se sinta atraído por todo tipo de representação artística.

O CEM procurou Anderson para um bate-papo sobre o papel da arte nas comunidades, como ela é vista por quem mora no “asfalto” e quais os caminhos do teatro pós-covid.

Com vocês, Anderson Suzart.

CEM -Tem alguns resultados relacionado ao seu trabalho na arte? Fale um pouco dele?

Anderson Suzart – Nossa isso é algo que me enche de orgulho e de inspiração. Participei de um evento anual que acontece no Tijuca Tênis Clube, o Rio Tango Festival, que integra a cultura argentina e a brasileira. Também fiz parte do elenco do espetáculo musical “Lapa de Todos os Tempos” onde eu fazia um guarda da década de 30 nos arredores da Lapa.

Posteriormente montei junto com amigo a Cia Pão com Teatro que nos proporcionou participar da Mostra Cultural de Cenas Curtas Aslucianas e ganhamos o prêmio de melhor produção com a esquete “O Julgamento“, um texto original e muito divertido.

Em 2019 participei da Oficina de Teatro com direção de Evandro Machado onde apresentamos um espetáculo de esquetes muito divertido “OBARH” nos meses de Novembro e Dezembro. Recentemente participei com um personagem meu da Mostra Cultural “Arte em 1 minuto“, um evento virtual por conta da situação mundial e fui premiado como um dos vídeo destaque escolhido pelo júri técnico, me inspirando e incentivando a continuar meu trabalho.

CEM – O que é a Cia Pão com Teatro ?

Anderson Suzart –Após a participação no Rio Tango Festival no espetáculo dirigido por Sandra Serrado e Márcio Vasconcellos, montei com dois amigos – Lú Anjos e Tony Lira a Cia Pão com Teatro que completou dois anos de existência em 2020. Hoje, temos 7 integrantes de diferentes idades e culturas, o que diversifica mais ainda nossas produções.

Hoje, temos roteiros originais, escritos pelo nosso elenco. Roteiros que desejamos assim que possível apresentar nos teatros. Mas, desde o início da pandemia, estamos buscando formas de estar mais presentes nas redes sociais , apresentando a nossa arte. Quando a situação mundial melhorar, nosso maior desejo é apresentar Roda da Infidelidade, um texto meu e de Lú Anjos que usa das surpresas no estilo de Nelson Rodrigues, com toques cômicos e traições, loucuras e ambições.

A diferença para a arte contemporânea é que ela foi feita sob uma ótica que não se enxerga na comunidade, com um dialeto que não reflete a cultura da periferia. “

CEM – Atualmente você desenvolve alguma atividade cultural em alguma comunidade ? Se está desenvolvendo qual é esta atividade?

Anderson Suzart –Infelizmente, não. Mas é um desejo enorme de poder desenvolver atividades culturais nas comunidades, principalmente nas mais anônimas, aquelas que não têm absolutamente case nem movimento culturais.

CEM -Como você vê o futuro relacionado a arte junto ao covid- 19?

Anderson Suzart –Estamos em completa adaptação. Atores que dependiam do teatro estão se adaptando para usar a internet como palco.

A necessidade de mostrar cultura e atuar, forçam nossos instintos mais criativos para inovar e muita coisa boa está saindo dessa necessidade e espero que seja perene. Em relação ao futuro, me assusta pensar na demora que irá acontecer para o retorno das atividades artísticas de uma forma plural, mas somos reflexos da sociedade e como ela se comporta, entretanto, muito além disso, somos nós artistas que mostramos sempre um outro ângulo do mesmo reflexo. Seja através do teatro, do cinema, e de artes mais antigas que essas como pinturas, dança e música.

CEM -A arte na periferia é respeitada? De sua opinião.

Anderson Suzart –Respeito é algo do outro, reconhecimento é algo do outro e ambos são requisitos básicos. Acredito que a arte periférica, seja dentro da cultura preta ou dentro das questões econômicas, passa por essas condições de respeito e reconhecimento como uma  luta TODOS os segundos por essa conquista.

 A diferença para a arte contemporânea é que ela foi feita sob uma ótica que não se enxerga na comunidade, com um dialeto que não reflete a cultura da periferia, isso fez com que a arte produzida por quem não se encaixava nos moldes contemporâneos e elitistas fosse menosprezados ou MUITO PIOR, aplaudidos por pena. Como muitos são convidados para demonstrar sua arte e, no comentário de quem estiver apresentando, são vitimizados e transformam a história num circo sensacionalista.

A arte periférica não precisa ser vista como vítima, porque isso a História já mostra e isso é nossa discussão diária como forma de “educar” quem acha que é mimimi,  mas eu acredito que a arte produzida nas comunidades precisa ser vista como resistência, justamente por conta do que já sofremos e iremos continuar sofrendo, enquanto não houver políticas culturais eficientes para os artistas com pouca visibilidade e não mudar a mente segregacionista das produções, afinal os olhares de reprovação quando um preto está em eventos elitistas é algo frequente.

Nossa maior batalha é ser reconhecido como qualidade, a técnica exige teoria e não equipamento, a arte exige vontade e não diploma. Eu acredito que enquanto existir uma faísca de resistência, tudo pode mudar, nosso oxigênio é nunca desistir. Pra conquistar respeito a gente precisa continuar.

CEM – Em quais redes sociais podemos acompanhar o seu trabalho?

 Anderson Suzart –No Instagram: https://www.instagram.com/andersonsuzart_/

Evandro Machado

Evandro Machado

Evandro Machado ator e ativista social morador do complexo do Turano no Rio Comprido Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Fez parte do TUERJ, estudou cinema e audiovisual na universidade Estácio de Sá e atualmente é coordenador do Espaço Cultural Fazendo Arte , ONG que fundou e na qual atua desde 1992.