Há moda na rua do João
Há moda na rua do João
É, João, muita coisa mudou por aqui, mas a rua… Ah, A rua! Ela continua charmosa demais apesar de tantas mudanças. Como você mesmo disse, a rua criou o garoto. E eu agora te digo: a rua, hoje, o reinventa.
Acabo de ler tua crônica A rua, meu amigo João do Rio. Um século nos separa e a rua com o seu movimento transformou demais o vestir desse garoto, mesmo com tantas regras e a despeito de todo esse tempo que já se passou, a moda está mais libertadora e teus garotos podem exibir colorido e leveza reafirmando a alma encantadora das ruas .
Inspirados na moda dos balneários mais sofisticados do planeta, a elegância dos conjuntos masculinos veio para ruas. E veio para ficar. Perfeitos para flanar pelas ruas no verão, eles podem ser lisos, listrados , florais, divertidos, manchados e tudo mais o que sua imaginação se permitir.
A rua tem alma. 
A rua nasce como homem do soluço, do espasmo no suor humano, na
argamassa do seu calçamento.
A rua resume para o animal civilizado todo o conforto. 
A rua continua matando substantivos, transformando a significação dos termos,
impondo ao dicionário as palavras que inventa.
A rua criou o garoto. 
Modelo: Leonardo Diniz dos Passos 
Modelo: Leonardo Diniz dos Passos
Flanando pelas ruas do Rio de Janeiro, da sua cidade babélica e monumental, encontramos toda essa diversidade que desconstrói democraticamente o visual de seus garotos.
E nesse tórrido fevereiro que já se veste de Carnaval, mostrarei um pouquinho do encantamento desses conjuntos.
São tantos os teus títulos, meu caro João, que não sei por onde começar. Quero agradecer ao jornalista, diplomata, escritor, mas principalmente quero agradecer ao carioca encantado com a alma das ruas dessa cidade tão minha e tão sua, o sopro para a inspiração. Por isso, fotografamos no porto, João, na Gamboa dos teus trabalhadores da estiva . E como sempre você dizia e o meu olhar ainda pode perceber: A rua sente nos nervos essa miséria da criação e por isso ainda é a mais igualitária, a mais socialista e a mais niveladora das obras humanas.
Obrigado João. Obrigado, João do Rio.Texto inspirado no livro de crônicas A alma encantadora das ruas. De João do Rio, publicado pela Companhia das Letras.
