Mitômanos – os reis das mentiras.
Mitômanos – os reis das mentiras.
Por Eneida Salles Damazio
Hoje é o Dia da Mentira. Oficialmente estamos liberados para mentir sem culpa. Mas no dia de hoje, a perna curta da mentira, para fazer a graça aparecer, tem que ficar mais curta ainda. Pra brincadeira dar certo, é preciso desfazer logo a mentira lembrando que é primeiro de abril para o trote ter efeito.
A verdade situa-se no território das Virtudes, já a mentira arrasta-se no terreno pantanoso dos defeitos e até dos pecadilhos.
Mas no intricado jogo social, que o homem desenvolveu quando resolveu viver em coletividade, há um espaço reservado para a mentira ser pelo menos tolerada ou até desculpada. É o que estudiosos do tema chamam de mentira social.
A mentira social é uma das exigências da vida em sociedade. Mente-se para melhor conviver ou por uma causa nobre – a compaixão. Mente-se para não criar “climão” ou mente-se para não magoar o próximo, nesse caso diz-se que é a “mentira piedosa”.
Contudo é certo que a mentira é considerada um defeito e pais e professores se preocupam com crianças e adolescentes que têm tendência a mentir.
Quando bem pequenas, aquela repaginada na realidade é creditada ao universo da imaginação infantil e não a um vício de caráter. Quando se chega à idade dos setes anos ainda é considerado razoável mentir para safar-se de algum problema; embora seja compreensível, é reprovável e desestimulado. Pois mentir tem como consequência a perda de credibilidade. Depois, na vida adulta, mentir é uma estratégia arriscada que pode trazer mais dissabores do que benefícios.
E por que se mente ?
Segundo os psicólogos que se especializam em Psicologia Social, a mentira é muitas vezes uma prova da fragilidade humana, o homem mente como uma forma de compensação, de defesa.
O problema está quando mais do que um hábito, o mentir vira uma compulsão, pois passa a ser uma doença psíquica chamada mitomania. A mentira passa a ser contada de forma consciente e com frequência, na maioria das vezes, para criar uma realidade paralela que lhe seja mais agradável, dando ao mentiroso uma falsa sensação de poder. Contudo, os especialistas alertam que esse comportamento longe de ser sinônimo de bem-estar liga-se muito mais a um sofrimento verdadeiramente profundo que fica por detrás dessa cadeia de mentiras.
Mitômano é mau-caráter ?
O mitômano ou mitomaníaco não mente por má-fé, por falta de caráter. Ele não mente como o sociopata , pois não quer prejudicar alguém; no fundo ele não tem controle sobre suas invenções, tanto que muitas vezes entra em contradição, o que facilita ser descoberto. Na verdade, os psicólogos alertam que ele mesmo acredita na história que inventa e o faz – na maioria das vezes – por um profundo sentimento de inferioridade, experimentado, principalmente, quando se vive sobre a pressão de uma sociedade consumista e competitiva como a nossa em que as chances de ascensão social são cada vez mais escassas.
Isso gera um grau de desequilíbrio e ansiedade que leva o mitomaníaco à mentira. Aliás a mentira patológica liga-se a transtornos de personalidade antissocial. Nesse quadro, a mitomania liga-se a outros problemas tais como transtornos ligados à ansiedade e ao humor ou o transtorno obsessivo compulsivo. Para tratar da doença, psicoterapia é recomendada.
Sejamos mitômanos ou apenas grandes mentirosos, devemos lembrar do mais popular dos mitômanos – Pinóquio- para termos a certeza de que por mais divertido que possa nos levar o caminho da mentira, sempre terminaremos numa grande enrascada. Enrascada da qual sem a Fada Azul e o Grilo Falante será muito difícil de sair rumo a um final feliz.
Crédito da imagem: Blog Ser Palestrante
- Italo Calvino – o mais real dos Cavaleiros Inexistentes - 15/10/2023
- O índio que virou Imortal – Aílton Krenak e a ABL - 05/10/2023
- A construção mítica e imagéticado 7 de setembro - 07/09/2023