Sobre se encontrar enquanto LGBTQI

Sobre se encontrar enquanto LGBTQI

Nessa semana, minha psicanalista me perguntou qual era a coisa que eu queria para mim, além de querer e desejar para os outros, de fato o que mais eu queria para mim mesmo esse ano. Foi instintivo: Identidade. É muito bom estar desarmado em uma sessão de terapia, parar de contar histórias do próprio ego e focar um pouco mais no que o inconsciente quer dizer. Fiquei parcialmente chocado e surpreso com a fala tão espontânea e afiada.

No decorrer da sessão, como sempre, sai com a cabeça extremamente ativa e pulsante. Como pode que eu aos vinte e nove anos de idade estar ainda em busca de uma identidade. Não precisei ir muito longe para obter minhas respostas: Ha exatamente 11 anos atrás eu lutava contra uma das fragmentadas partes do meu eu: Minha sexualidade.

Ouvimos em nossa infância e adolescência o tempo inteiro que nossas personalidades eram fases ou que até mesmo podíamos estar sofrendo de possessões malignas sob a influências de pombo giras. Que com a ajuda das famosas “correções” nos levam a lugares da qual nos podamos e seguimos desacreditando de nossa natureza e personalidade.

Quem nunca ouviu um “engrossa essa voz?” Há pouco tempo nas aulas de canto, um presente que resolvi dar a mim mesmo, tive a graça de descobri uma extensão extremamente diversa no meu tom de voz. Os agudos renunciados pela pressão familiar ainda estavam lá, sobrepostos pelo grave do dia-a-dia que usei como mascara para ter um pouco de paz: Essa é a identidade da minha voz.

Por quantas vezes nos perdemos em opiniões alheias, inseguros na vida a margem da opinião de quem nos cerca, pelo simples fato de não acreditarmos que podemos ter o instinto do caminho que precisamos trilhar sem a necessidade de pedir validação a ninguém? Isso se chama dilaceração de nossas personalidades a custos de uma moral social completamente deturpada.

Acabar com nossas certezas é a primeira parte do plano de desordem de nossas personalidades. Esvaziar o sentido do “eu” pelo dos “outros” é nos tirar a bussola da própria vida. Saímos de um período super importante para nossa fase adulta, que é nossa infância e adolescência, completamente divididos. Com um “Eu” extremamente profano e um “Eu” comprometido em lutar contra o outro. Um ser partido ao meio.

Quando nos assumimos ao mundo, um processo extremamente delicado cheio de saídas de armário, porque sim, a cada descoberta de um novo fragmento do seu eu é um novo assumir-se, acreditamos que vencemos todos esses traumas e violências sofridas em nossa juventude, mas não é bem assim, viu? Procurar ajuda de um profissional de saúde mental e fundamental para que possamos vencer esses traumas de um momento extremamente delicado da nossas vidas.

Caso você esteja procurando por ajuda, o projeto Vozes e Cores promove encontros todas as segundas e quartas em dois horários, para acolhimento da população LGBTQI no campus da UERJ. O projeto ainda disponibiliza uma planilha para abertura de novos horários, caso você não se encaixe dentro da atual grade de encontros. Falar sobre suas vivências, dores e sofrimentos, ajuda no auto conhecimento e no fortalecimento de outros ouvintes.

Para além dessa proposta, apoie o auto conhecimento do sex amigx LGBTQI o ajudando a tomar suas próprias decisões e o encorajando a refletir sobre quais caminhos realmente deseja trilhar, sem opiniões ou bedelhos. Pessoas LGBTQI precisam assumir as rédias de suas vidas, romper com suas inseguranças e seguirem em frente e só. O mundo já esta cheio de pessoas bem intencionadas, não seja mais uma delas.

Jorge Capo
Redes
Últimos posts por Jorge Capo (exibir todos)

Jorge Capo

Escritor de contos, roteirista e jornalista